Câmeras de segurança registraram o momento em que Luiz Henrique Jacopini e a esposa, Samara Aparecida Siqueira, foram espancados pelos PMs.
Dois policiais militares foram filmados agredindo um homem e uma mulher em uma ocorrência em Valinhos (SP). Os PMs foram chamados ao local pela avó da mulher, após uma discussão familiar. Os agentes determinaram que o homem desligasse um aparelho de som e apagasse um cigarro de tabaco que fumava, o que ele contestou, por estar no quintal da própria residência. Em razão disso, ele e a esposa, que tentou protegê-lo, foram detidos com violência e ameaçados.
O caso ocorreu na manhã do último dia 21 de junho, um sábado. Na ocasião, Luiz Henrique Jacopini e a esposa, Samara Aparecida Siqueira, discutiram com a avó dela — todos eles viviam na mesma residência, junto do filho do casal, ainda criança. A idosa chegou a agredir o homem, que não revidou, e, na sequência, chamou a Polícia Militar paulista (PM-SP).
Ao chegarem ao local, o cabo Bruno Cesar Belinatti e o cabo Barros (a Ponte não identificou o nome completo dele) se depararam com Luiz sentado no quintal da própria casa. O morador estava bebendo cerveja e fumando um cigarro, enquanto ouvia música acompanhado da esposa e do filho.
Na versão dos agentes, relatada em um boletim de ocorrência, Luiz estava muito alterado e, em dado momento, “investiu contra equipe policial, sendo necessário fazer o uso moderado da força”. Um vídeo gravado por uma câmera de segurança instalada na casa, no entanto, desmentiu essa versão. O registro mostra que os dois policiais começaram com as agressões após uma breve conversa com o morador, sem que ele tivesse desacatado, ameaçado ou oferecido risco aos PMs.
Agressão ‘acidental’ a mulher com socos no rosto
Luiz foi agredido com chutes, socos e pancadas de cassetete, inclusive quando já estava caído no chão. No B.O., os PMs ainda relataram que Samara teria sido atingida acidentalmente. O vídeo mostra, contudo, que um dos policiais agride ela deliberadamente com socos no rosto após mandá-la calar a boca, em função de a vítima pedir para que parassem com as agressões em frente ao filho do casal.
Momentos depois, com Luiz gritando por socorro, algemado e já dentro do camburão da viatura, Samara foi ameaçada para que também acompanhasse os policiais. “Olha o que aconteceu com o seu marido, ele quis desafiar nós (sic)”, disse um deles, conforme registrou a câmera na residência. A mulher contestou então, com o filho no colo, que o outro agente a agrediu no rosto, o que nunca havia sofrido de nenhum homem. “Por isso, você é desse jeito”, afirmou o PM agressor.
Luiz e Samara foram levados à Delegacia de Polícia de Valinhos. No local, os PMs relataram a ocorrência como vias de fato, como se o homem tivesse agredido a avó da esposa, o que a própria idosa não declarou. Antes da ida à delegacia, os agentes quiseram levar o casal para uma unidade de pronto-atendimento, o que foi aceito apenas por Samara. Luiz preferiu que o delegado do caso visse antes o estado de suas lesões.
Casal se mudou após receber ameaças
O homem agredido também se negou a assinar o boletim de ocorrência nos termos declarados pelos PMs. Ele e a esposa buscaram posteriormente a Corregedoria da PM-SP. Ao órgão, o casal relatou ter sido alvo de ameaça durante todo o caminho até a delegacia. Barros teria dito que “isso não acabou, que não ia ficar desse jeito, que iam mudar a rota, arrastá-los para o mato e acabar com a vida deles”.
Em função das ameaças, Luiz e Samara se mudaram de cidade, junto do filho pequeno. O casal também pretende buscar uma reparação na esfera cível, com uma ação judicial contra o Estado.
A Secretaria da Segurança Pública paulista (SSP-SP) comunicou que os policiais foram afastados do trabalho operacional e têm a conduta investigada por um inquérito policial militar (IPM). Disse ainda que a Polícia Civil apura, paralelamente, a prática de violência doméstica.
Leia a íntegra do que diz a SSP-SP
A Polícia Militar instaurou um Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar os fatos e determinou o afastamento dos agentes envolvidos das atividades operacionais. Paralelamente, a Delegacia de Valinhos instaurou inquérito policial para investigar a prática de violência doméstica. O casal envolvido já foi ouvido nos autos. As investigações seguem em andamento para o completo esclarecimento dos fatos.
Fonte e Foto: Ponte.org