A inflação acumulada em 12 meses já ultrapassou o teto da meta de 4,5% em 10 das 16 capitais pesquisadas pelo IBGE, segundo dados divulgados na terça-feira (10). Apesar da desaceleração do índice mensal, que caiu de 0,56% em outubro para 0,39% em novembro, a inflação anual subiu de 4,76% para 4,87%, acima do limite estabelecido para 2024.
Entre as capitais mais afetadas estão Belo Horizonte (6,54%), São Luís (6,22%) e Rio Branco (5,3%), refletindo um aumento disseminado de preços em todo o país. A inflação de alimentos e bebidas lidera as altas, com um acumulado de 7,63% nos últimos 12 meses. Destaque para as carnes, que reverteram a deflação de abril e agora acumulam alta de 15,43%. A picanha, produto simbólico para os consumidores brasileiros, registrou aumento de 7,8% somente em novembro.
Outro ponto de preocupação é a inflação de serviços, que subiu 4,71% no acumulado. Como está ligada diretamente ao mercado de trabalho, sua persistência pode implicar em desaceleração econômica e aumento do desemprego.
Entre os fatores estruturais que impulsionam a inflação está a disparada do dólar, que acumulou alta de 25% em 2024. A desvalorização da moeda brasileira reflete o risco fiscal, alimentado pela incapacidade do governo em controlar o crescimento da dívida pública. Especialistas estimam que cada 10% de alta no dólar adiciona 0,4 ponto percentual ao IPCA.
O cenário também se reflete nas expectativas futuras. O Boletim Focus, divulgado na segunda-feira (9), revisou para cima a projeção de inflação para 2024, de 4,4% para 4,59%, com perspectivas de piora até 2027.
Pressionado por esse quadro, o Banco Central pode elevar novamente a taxa Selic na reunião de política monetária que termina nesta quarta-feira (11). Para o economista Douglas de Holanda, o atual cenário combina inflação persistente, dólar valorizado e aumento do custo de vida, o que tende a intensificar a insatisfação popular e aumentar os desafios para a gestão econômica nos próximos meses.