A Polícia Nacional da Venezuela gerou repercussão ao divulgar nas redes sociais uma imagem com teor ameaçador contra o Brasil na última quinta-feira (31). A montagem, que traz uma foto desfocada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobreposta à bandeira brasileira, inclui a frase: “Quem se mete com a Venezuela se dá mal”, em tradução livre.
Essa publicação ocorre após o governo venezuelano manifestar forte insatisfação com a postura do Brasil em vetar a entrada da Venezuela no Brics, bloco que reúne algumas das principais economias emergentes. A adesão de novos países ao grupo exige consenso entre os membros, e, embora a Venezuela contasse com o apoio da Rússia — que atualmente preside o bloco —, o presidente Lula instruiu o Itamaraty a barrar a candidatura do país vizinho. A informação foi confirmada por Américo Martins, analista de política internacional.
A frase, que já havia sido utilizada pelo presidente venezuelano Nicolás Maduro para comentar o veto, intensifica uma escalada de tensão entre os dois países. “Quem tentou calar ou vetar a Venezuela no passado se deu mal. Quem pretende vetar ou calar a Venezuela nunca conseguirá. A Venezuela não é vetada nem calada por ninguém, vão se dar mal”, afirmou Maduro em pronunciamento recente.
Aumento das Tensões
A crise diplomática entre Brasil e Venezuela teve início em outubro, quando o governo brasileiro rejeitou a entrada venezuelana nos Brics, gerando uma onda de críticas do governo Maduro. A insatisfação do país vizinho já vinha crescendo desde julho, quando o Brasil se absteve de reconhecer a vitória de Maduro nas eleições presidenciais realizadas na Venezuela. Desde então, o presidente Lula e outras autoridades brasileiras têm pressionado o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) venezuelano a divulgar documentos que comprovem a legitimidade dos resultados eleitorais.
Durante a cúpula dos Brics em Kazan, na Rússia, Maduro reiterou que considerava a Venezuela “parte da família dos Brics” e demonstrou a intenção de integrar o bloco. A negativa brasileira, no entanto, gerou uma resposta contundente por parte de Maduro, que acusou o Itamaraty de conspirar contra a Venezuela, associando o Ministério das Relações Exteriores brasileiro a interesses norte-americanos. Em resposta, o assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência, Celso Amorim, rebateu, afirmando que o Brasil está sendo injustamente acusado de obstruir a adesão da Venezuela.
O embate escalou no dia 29 de outubro, quando o presidente do Legislativo venezuelano, Jorge Rodríguez, sugeriu declarar Amorim persona non grata no país. No dia seguinte, a Venezuela convocou seu embaixador em Brasília, Manuel Vadell, para consultas. Esse movimento diplomático expressa uma forte insatisfação e pode sinalizar um possível rompimento de relações entre os dois países, caso Maduro decida retirar o embaixador de forma definitiva.
A divulgação da imagem por parte da Polícia Nacional da Venezuela acrescenta uma nova camada de tensão a um cenário que já vinha se deteriorando, levando as relações entre Brasil e Venezuela a um ponto delicado.