Aliados defendem investida junto à Casa Branca para reagir a narrativa da esquerda que responsabiliza Eduardo Bolsonaro pelo aumento das tarifas.
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) avalia entrar pessoalmente em negociação com a Casa Branca para tentar reverter o tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao Brasil. A movimentação é vista por aliados como uma estratégia para frear a narrativa da esquerda, que atribui o aumento das tarifas à atuação do deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos EUA contra o Supremo Tribunal Federal (STF).
A sugestão para que Bolsonaro assuma a frente dessa articulação foi levada a ele por assessores próximos e ganhou força nos últimos dias. Até esta quinta-feira (10), o diagnóstico entre bolsonaristas era de que a crise tem desgastado a direita, dando munição à militância do PT para um discurso em defesa da soberania nacional — tema tradicionalmente caro ao petismo — e reforçando a tese de que o bolsonarismo tem responsabilidade pelo tarifaço.
Além de monopolizar o debate político, o episódio também ofuscou pautas caras ao grupo de Bolsonaro, como o projeto de anistia aos investigados pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, e acentuou o desgaste entre Executivo e Legislativo.
A ideia é que Bolsonaro faça um gesto público de liderança, por exemplo, por meio de um telefonema intermediado por Eduardo ao presidente americano, para tentar reverter ou ao menos atenuar as tarifas. Para aliados, isso ajudaria a mostrar força política e a contrastar com o que chamam de “inércia” do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de sua diplomacia frente a Washington.
Entre bolsonaristas, circula a leitura de que o aumento das tarifas foi, em parte, provocado pela postura deliberadamente passiva do Palácio do Planalto e do Itamaraty, justamente para transformar a crise em capital político contra a direita. Bolsonaro também teria relatado a aliados que Trump viu a participação brasileira na última cúpula do Brics como um gesto hostil aos EUA, já que o Brasil é o único país das Américas no bloco, o que reforça interesses de países como a Venezuela — tema sensível para o republicano.
A operação, no entanto, não é isenta de riscos. O maior deles é não surtir efeito junto a Trump, o que reforçaria a narrativa da esquerda ao invés de enfraquecê-la. Outro temor entre aliados é que a articulação abra espaço para novas acusações no STF, caso o desfecho inclua sanções administrativas a autoridades brasileiras, o que poderia complicar ainda mais a situação jurídica do ex-presidente.
Ainda assim, a avaliação no núcleo bolsonarista é que manter-se inerte permitiria que a esquerda consolidasse a versão de que o tarifaço é resultado direto das ações de Eduardo Bolsonaro, prejudicando ainda mais a imagem do grupo junto ao eleitorado.