Um novo estudo publicado no JAMA Network revela que cerca de 15 milhões de adultos nos Estados Unidos consumiram ao menos um suplemento alimentar potencialmente prejudicial ao fígado em um período de 30 dias. A pesquisa, divulgada na segunda-feira (5), aponta que 4,7% dos adultos norte-americanos usaram um dos seis produtos botânicos potencialmente tóxicos, como cúrcuma, extrato de chá verde, ashwagandha, Garcinia cambogia, arroz vermelho fermentado e cohosh preto, no mês anterior à análise.
Grande parte dos usuários desses suplementos estava se automedicando, utilizando os produtos para tratar sintomas de condições como menopausa e artrite. A pesquisa, conduzida por cientistas da Universidade de Michigan, analisou dados coletados entre 2017 e 2021 de 9.685 pessoas. Os suplementos foram consumidos para fins diversos: cúrcuma para aliviar dores nas articulações, chá verde para aumentar a energia, Garcinia cambogia para perda de peso, cohosh preto para controlar ondas de calor e arroz vermelho fermentado para promover a saúde cardiovascular.
Contudo, especialistas alertam que não há evidências científicas robustas que comprovem os benefícios à saúde alegados pelos fabricantes desses suplementos. “Os estudos que sugerem efeitos benéficos desses produtos não são controlados e não podem ser reproduzidos em diferentes populações”, afirma Liliana Mendes, hepatologista do Hospital Sírio-Libanês, que não participou do estudo.
Além de não oferecerem benefícios comprovados, esses suplementos podem apresentar riscos significativos ao fígado. Uma pesquisa anterior, publicada em 2022 no American Journal of Medicine, demonstrou que produtos fitoterápicos à base de cúrcuma estão associados a lesões hepáticas. O estudo, que analisou casos registrados no Drug-Induced Liver Injury Network (DILIN) dos EUA entre 2004 e 2022, identificou 16 casos de lesão hepática associada à cúrcuma desde 2011, resultando em cinco internações e uma morte por insuficiência hepática aguda.
Os autores do estudo publicado no JAMA Network enfatizam que a estimativa de 15,6 milhões de adultos norte-americanos consumindo suplementos botânicos com potencial hepatotóxico é alarmante, equiparando-se ao uso de medicamentos como anti-inflamatórios não esteroides e hipolipemiantes, ambos comumente prescritos. Eles destacam a necessidade urgente de maior supervisão regulatória sobre a fabricação e comercialização desses produtos para prevenir complicações graves à saúde.
Para os médicos, a recomendação é clara: ao tratar pacientes com sintomas inexplicáveis ou anomalias nos testes hepáticos, é essencial obter um histórico completo de uso de medicamentos e suplementos herbais. Já para as autoridades de saúde, os pesquisadores sugerem o aumento da regulamentação sobre a produção, comercialização e monitoramento desses produtos na população.
A condição conhecida como hepatotoxicidade, que ocorre quando o fígado sofre lesões devido ao consumo de substâncias em alta concentração, pode ser silenciosa, mas também pode levar a sintomas como icterícia, coceira, náuseas, vômitos e, em casos graves, falência do fígado. A hepatotoxicidade afeta particularmente pessoas que fazem uso simultâneo de múltiplos medicamentos ou abusam de álcool e outras substâncias tóxicas ao fígado. Idosos e crianças são especialmente vulneráveis. Quando diagnosticada, a lesão hepática requer acompanhamento médico próximo, e, em alguns casos graves, pode ser necessário um transplante de fígado para salvar a vida do paciente.