RIO — Conhecida como “Trafigata de Curitiba”, Camila Marodim, de 27 anos, escapou de um atentado com aproximadamente 20 tiros ao se deitar no banco traseiro de um carro que acabara de estacionar. Ela e um amigo haviam chegado das compras em um mercado próximo a sua residência no bairro do Alto Boqueirão, onde cumpre prisão domiciliar na capital paranaense, quando foram alvos de dois criminosos que estavam em outro veículo nesta segunda-feira.
Imagens de câmeras de segurança do local mostram o momento em que Camila e seu amigo, identificado como Paulo, descem de um Jetta por volta das 18h23. A trafigata abre a porta traseira, enquanto o rapaz dá uma volta no carro e começa a conversar com ela. Em segundos, a dupla é surpreendida por uma série de tiros e tenta se proteger. Camila então se deita sobre o banco, e Paulo se agacha na frente do veículo até conseguir abrir o portão da residência. Ele entra correndo, acompanhado pela amiga logo depois.
— Dois criminosos de dentro de um Palio cinza claro, com placa clonada, pararam em frente à casa da Camila. Um dos criminosos armados desceu com uma pistola semiautomática e desferiu aproximadamente 18 tiros, número de orifícios que encontramos lá, mas talvez há mais. De uma forma milagrosa, ela acaba escapando disso. Se joga no banco do carro e, por ser uma pessoa leve e ágil, fica ilesa. Mas a outra vítima foi atingida — disse o delegado Tito Barichello, responsável pelo caso.
De acordo com informações preliminares, Paulo teria sido atingido por disparos na região do abdômen e tinha ferimentos graves. Ele foi encaminhado ao Hospital do Trabalhador, onde segue internado. Camila, ao contrário, não se feriu.
Em depoimento prestado na Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) após o episódio, a trafigata afirmou que não sabe a motivação e que é inocente. Até o momento, os autores não foram identificados. A principal linha de investigação é de que estaria associado ao tráfico de drogas.
— No mundo do tráfico, vigora a lei do silêncio. Eles resolvem as questões deles sem executar uma divída. Eles cobram com a vida. É um mundo paralelo — disse o delegado. — Ela estava em um local escondido. Nem os advogados dela sabiam o endereço. É algo premeditado. Eles se organizaram e conseguiram de alguma forma descobrir onde ela estava. Foram até o endereço com intuito de subtrair a vida dela.
Segundo o advogado de Camila, Cláudio Dalledone, a casa no Alto Boqueirão foi a terceira usada por ela como residência desde que começou a cumprir prisão domiciliar em meados de dezembro. As mudanças sucessivas de endereço teriam sido motivadas pela suspeita de que um cerco estaria se montando contra a mulher. Ela constantemente veria movimentações estranhas nas redondezas de onde morava.
Camila foi presa preventivamente no dia 12 de dezembro, em Matinho, no litoral paranaese, em uma operação da Polícia Militar que investigava a quadrilha da qual ela faria parte. O Ministério Público do Paraná (MPPR) a denunciou por associação ao tráfico, lavagem de dinheiro e formação de organização criminosa.
Dias antes, Camila viu o marido ser executado durante a festa de aniversário de um dos filhos do casal, em Pinhais. Na ocasião, quatro homens teriam disparado de um carro contra Ricardo Marodim, quando ele saiu do salão de festas onde o evento acontecia. Ele era suspeito de envolvimento com tráfico de drogas na região.
A ‘trafigata de Curitiba’ teve a prisão preventiva convertida em domiciliar às vésperas do Natal. A Justiça também estabeleceu que ela deve usar uma tornozeleira eletrônica.
Uma audiência relativa a outro inquérito sobre tráfico de drogas está marcada para o próximo dia 9. A expectativa é que possa contribuir com a investigação do atentado.
Fonte: O Globo