Os dois principais pré-candidatos ao Planalto — conforme apontam pesquisas de intenção de voto — estão lançando mão da imagem das companheiras para tentar atrair o eleitorado feminino. O presidente Jair Bolsonaro (PL) tem dado destaque à primeira-dama Michelle em eventos pelo Brasil. Já o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) dá cada vez mais espaço à noiva, a socióloga Rosângela da Silva, mais conhecida como Janja.
Uma pesquisa XP/Ipespe, divulgada na última sexta-feira, 5, apontou que Lula lidera as intenções de voto com 44%, e Bolsonaro tem 31%. Entre as mulheres, a vantagem do petista se amplia: 47% a 25%.
No último domingo, Michelle protagonizou um pronunciamento em cadeia nacional ao lado ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Cristiane Britto, com uma mensagem para o Dia das Mães. A primeira-dama também tem acompanhado Bolsonaro em cerimônias públicas e, em algumas, discursa para o público.
O protagonismo de Michelle é visto por aliados com potencial para conquistar, também, o eleitor evangélico. Na última semana, um vídeo em que a primeira-dama participa de um culto da bancada evangélica na Câmara dos Deputados viralizou na internet. No conteúdo, Michelle aparece se ajoelhando, chorando e orando ao pedir um “avivamento” nos três Poderes. O conteúdo foi compartilhado pela Frente Parlamentar Evangélica (FPE) nas redes sociais.
Por sua vez, Janja aparece como produtora executiva na organização do clipe Sem medo de ser feliz, lançado no último sábado. O jingle é a abertura da pré-campanha eleitoral do petista. No Instagram, o partido diz que foi “uma surpresa preparada por Janja para Lula”. Ela também aparece cantando nas imagens publicadas na rede social.
A participação de Janja, entretanto, é vista com reticências. Para parte dos petistas, a postura da socióloga no lançamento, ao tratar o jingle como algo “dela”, de presente para Lula, contrastou com as posições da ex-primeira-dama Marisa Letícia, que preferia ficar fora dos holofotes nas gestões de Lula. Marisa morreu em fevereiro de 2017, após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC).
Nos bastidores, aliados reconhecem que Janja traz certa jovialidade para a imagem de Lula, mas a ideia é de que seja limitada a influência da socióloga sobre os rumos da campanha.
Denúncia
O pronunciamento de Michelle, no domingo, motivou o deputado Rui Falcão (PT-SP) a protocolar, ontem, na Justiça Eleitoral, uma denúncia contra ela e a ministra Cristiane Britto, por improbidade e propaganda eleitoral antecipada.
No documento, o coordenador da campanha de Lula sustentou que a peça é um “roteiro clássico das propagandas eleitorais de manuais de publicidade que indicam a importância de indicar os méritos dos gestores que postulam a reeleição através da apresentação de seus feitos”.
Falcão enfatizou que o pronunciamento em cadeia nacional é destinado aos presidentes da República, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF). Eventualmente, a ministros de Estado. Segundo o parlamentar, a primeira-dama discursar sobre o assunto configura conflito de interesse, especialmente quando ela se apresenta como “uma mãe sensível, uma mulher conhecedora das dificuldades de tantas mães brasileiras”.
O deputado destacou ser a primeira vez que a primeira-dama ganha espaço na tevê em um Dia das Mães. Nos outros três anos de governo, isso não ocorreu. Na avaliação dele, Michelle demonstra que poderia “atuar em benefício das eleitoras influenciado seu marido na tomada de decisões que favoreçam as brasileiras”.
A advogada Gabriella Miranda, especialista em direito eleitoral, afirmou que a legislação garante a promoção pessoal como ato próprio da vida pública. “O entendimento do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) dispõe sobre a aplicação de multa à campanha eleitoral antecipada quando há declaração de candidatura antes da hora e qualquer pedido de voto de forma explícita ou implícita. Portanto, a simples exaltação de qualidades pessoais é resguardada pela legislação como ato próprio e natural dos agentes políticos”, explicou. “Cabe observar que com a nova atualização da lei de improbidade administrativa, requer-se que haja dolo específico na conduta do agente, ou seja, não basta apenas que se pratique a ação, há que demonstrar, também, a intenção do agente em causar o ilícito.”
Para o cientista político Carlos Eduardo Novato, este é o período de impressão da identidade dos postulantes a cargo eletivo. “Vivemos um momento em que pré-candidatos e seu núcleo duro procuram imprimir a tônica do que será o seu discurso, suas bandeiras e para que públicos enviar tais mensagens”, disse.
Fonte: Correio Braziliense