Depois de terem conseguido elaborar vacinas e remédios em tempo recorde para enfrentar a Covid-19, os cientistas agora se defrontam com o desafio de produzir medicamentos contra a Covid longa ou Covid persistente, como são genericamente chamados os problemas de saúde relacionados à infecção que aparecem após os pacientes se livrarem do vírus.
A Covid longa tem cerca de 220 sintomas relatados, entre eles fadiga, dor no peito e nevoeiro cerebral – uma confusão que prejudica a memória das pessoas e as atrapalha na execução de tarefas cotidianas. Diabetes e inflamações cardíacas também fazem parte da lista.
Alvo misterioso
Atualmente, no mundo inteiro, há cerca de 20 ensaios clínicos que testam remédios para tratar a Covid longa ou preveni-la. A dificuldade dos pesquisadores, no entanto, é descobrir a causa ou as causas dos sintomas pós-Covid. Entre as possibilidades estão danos provocados pela infecção original, reservatórios persistentes de vírus no corpo e desregulação da resposta autoimune dos pacientes.
“Não temos ainda a explicação físico-química sobre o que causa a Covid longa. Essa é a maior dificuldade para estabelecer um tratamento único, que ataque o problema. Atualmente, tratamos apenas os sintomas”, explica o médico David Urbaez, diretor científico da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal.
A condição independe do quadro apresentado durante a enfermidade: mesmo pessoas que tiveram sintomas leves podem apresentar sequelas por meses. “É desafiador, porque estamos buscando um alvo nebuloso”, admitiu, em entrevista à Agência Reuters, o cientista Amitava Banerjee, que coordena um grande estudo sobre o assunto na University College, de Londres.
A pesquisa inglesa vem testando quatro remédios que já existem para tratar os pacientes: os anti-histamínicos loratadina e famotidina, a colchichina para o tratamento de gota e a rivaroxabana, que previne coágulos.
Outras possibilidades
Outro grupo de estudos nos Estados Unidos avalia se um remédio originalmente desenvolvidos para a esteato-hepatite não alcoólica (NASH) seria capaz de diminuir os sintomas da Covid longa. A coordenadora da pesquisa, Betty Raman, acredita que a fadiga relatada pelos pacientes se deve a danos causados nas mitocôndrias das células, que são organelas responsáveis por fabricar a energia celular.
Em uma analogia feita pela própria Raman, se a Covid danifica a bateria das células, o medicamento para evitar as sequela precisaria restaurar essa bateria, fazendo com que as células possam desempenhar suas funções sem consumir tanta energia.
Nos Estados Unidos, outro grupo de pesquisadores testa um medicamento que evita que o RNA do coronavírus fique em circulação no corpo. A droga dissolveria o RNA para evitar que ele causasse as inflamações.
Uma quarta aposta da comunidade científica consiste em usar a própria fórmula das vacinas como base para tratamentos contra a Covid longa. Essa linha ganhou força na semana passada quando foi divulgado o caso do paciente Ian Lester, de 37 anos.
Por causa de uma imunodeficiência genética rara, Ian lutou contra a infecção durante meses e conseguiu se curar apenas quando recebeu duas doses do imunizante Pfizer.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a Covid longa afeta cerca de 100 milhões de pessoas ao redor do mundo, diminuir as sequelas do vírus será um alívio para milhares de pacientes e também um filão rentável para a indústria de medicamentos.
Fonte: Metrópoles