O mega-aumento no preço dos combustíveis anunciado pela Petrobras na semana passada levou a uma onda de revisões para cima das expectativas para a inflação em 2022. O impacto da alta na gasolina (18,8%), diesel (24,9%) e gás de cozinha (16,1%) deve se disseminar por toda a cadeia econômica brasileira e pressionar o encarecimento de diversos produtos, sobretudo os alimentos, e serviços, com força concentrada nos transportes. A propulsão em reflexo à guerra na Ucrânia faz analistas enxergarem o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acima de 7% ao fim deste ano — mais que o dobro da meta de 3,5% perseguida pelo Banco Central (BC), com limites entre 2% e 5%. Caso se concretize, será o segundo ano consecutivo que a autoridade monetária estoura o teto. Em 2021, a inflação encerrou em 10,06%, o maior patamar em seis anos.
Além dos efeitos imediatos nas bombas, que já passam a exibir um valor acima de R$ 7 pelo litro da gasolina, a alta dependência brasileira do transporte por rodovias vai levar a alta diversos outros setores. O efeito em cascata fez o coordenador do Índice de Preços da Fundação Getulio Vargas (FGV), André Braz, subir para 7,1% a expectativa com a inflação ao fim deste ano. Apesar de as medidas aprovadas pelo Legislativo para diminuir o preço nos postos indicarem algum alívio, o economista pontua uma série de outros produtos derivados do petróleo que não serão impactados pela redução de impostos ou com os bônus distribuídos pelo governo. “Temos as embalagens plásticas, as resinas automobilísticas, a parte de tubos e conexões da construção civil, os fertilizantes usados no agronegócio. É uma quantidade enorme de produtos que vai ficar mais caro aos consumidores”, diz.
Na mesma linha, o banco Credit Suisse revisou a expectativa com a inflação de 6,2% para 7%. Em nota, a instituição europeia frisa que o novo patamar considera o repasse aos consumidores de apenas uma parcela do reajuste praticado nas refinarias. Caso a conta seja transferida integralmente, a projeção aponta alta de 7,8%. O Bank of America (BofA) também elevou a estimativa de 5% para 6,5% ao citar as pressões geradas pelo aumento das commodities, sobretudo as energéticas e agrícolas. Os analistas brasileiros preveem o IPCA a 5,65%, de acordo com o Boletim Focus, pesquisa semanal do BC com mais de uma centena de instituições. O patamar tem sido revisto em oito semanas consecutivas e deve ser novamente alterado na edição da próxima segunda-feira, 14.
O aumento do barril de petróleo é uma das principais consequências econômicas do conflito no Leste Europeu. O temor de escassez com o embargo dos Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia à Rússia fez o preço da commodity disparar no mercado internacional e tocar os US$ 140 no início da semana passada. O valor arrefeceu nos dias seguintes com a informação de que outros países conseguem suprir a demanda bloqueada dos russos, e a cotação recuou para a casa de US$ 110. O conflito, porém, só deu mais força para um movimento que já estava no radar dos economistas. Após bater as mínimas entre 2020 e 2021 por causa da estagnação econômica em virtude da pandemia do novo coronavírus, o setor passou para alta com o reaquecimento das atividades ao redor do globo. A falta de clareza gerada pela guerra não permite enxergar o caminho que o mercado vai trilhar, mas nenhuma das pistas indica que a cotação deva ficar abaixo dos três dígitos tão cedo.
A inflação foi a 10,54% no acumulado em 12 meses em fevereiro, segundo dados divulgados na sexta-feira, 11, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A variação de preços subiu 1,01% no mês, o maior patamar para o período em sete anos. A disseminação generalizada do encarecimento do litro dos combustíveis sobre a cadeia econômica foi comprovada pela alta de 75% no índice de difusão, ou seja, a fatia de produtos pesquisados que tiveram variação positiva no mês.”Sem dúvidas, isso é resultado do repasse da gasolina. Mesmo que os combustíveis registraram recuo em fevereiro, a transferência estava sendo feito aos poucos em toda a cadeia”, afirma o economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito.
No esforço de trazer a inflação para a meta, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a taxa básica de juros de 9,25% para 10,75% ao ano em fevereiro. Foi o terceiro acréscimo seguido de 1,5 ponto percentual na Selic. O Banco Central deixou contratada nova alta no encontro da próxima semana, apesar de admitir desaceleração no aperto. O mercado financeiro estima que a Selic fique a 12,25% ao ano, mas a recente pressão com o conflito no Leste Europeu faz com que parte dos analistas enxerguem os juros encostando em 14% ao ano. A escalada dos juros prejudica as atividades econômicas pela taxa ser usada como base em financiamentos e empréstimos.
Fonte: JP Notícias