Pré-candidatos de partidos de esquerda afirmam que na manhã de hoje (16) o deputado estadual Rodrigo Amorim (PTB-RJ) interrompeu, junto com assessores, uma caminhada do grupo com a participação do pré-candidato ao governo do Rio Marcelo Freixo (PSB). De acordo com relatos ouvidos pela reportagem e publicados nas rede sociais, o grupo de Amorim encurralou os participantes da caminhada na Praça Saens Peña, na Tijuca, zona norte do Rio.
Em nota, o deputado bolsonarista disse que estava em um “ponto de encontro para irem a um evento do PTB em São Cristóvão” e foi ofendido pela equipe de Freixo. Não há relatos de feridos.
Os pré-candidatos de esquerda foram até a delegacia no fim da manhã. De acordo com eles, Freixo saiu do local pouco após a chegada de Amorim e não estava presente na hora de maior confusão. O caso foi registrado na 19ª delegacia como ameaça e injúria e será investigado pela Coordenadoria de Investigações de Agentes com Foro (CIAF), segundo a Polícia Civil.
Os pré-candidatos da aliança da esquerda afirmam que Amorim e seus apoiadores chegaram à agenda da aliança da esquerda —divulgada publicamente— gritando “traficantes e marginais”. Os relatos indicam que, ao serem chamados de “milicianos”, os homens se exaltaram, quebraram bandeiras e mostraram que estavam armados.
O deputado bolsonarista reclama que Freixo estava “em campanha antecipada”. “Não houve nenhum episódio de violência física”, diz o texto enviado à reportagem. Outros pré-candidatos têm participado de caminhadas, motociatas e eventos nas últimas semanas.
No Twitter, a pré-candidata à Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro) Elika Takimoto (PT) publicou um vídeo que mostra uma discussão entre Amorim e um militante de esquerda, não identificado. No trecho de menos de um minuto, é possível ver troca de xingamentos e o deputado do PTB acompanhado por um grande grupo de homens, que também faziam filmagens.
Tiago Prata (PSB), também pré-candidato a deputado estadual, avaliou que foi uma ação premeditada. “Eles chegaram como em um batalhão, encurralaram o grupo no meio da feira e mostraram armas. Eles querem violência e ódio, não querem debater política”, diz.
O também pré-candidato à Alerj Rodrigo Mondego (PT) relatou que acompanha o grupo até a delegacia para registrar a ocorrência. Mondego, que é advogado, disse que o grupo em que Amorim estava, além de fazer ameaças verbais, também “apontou dedo” para militantes e quase derrubou barracas de feirantes que estavam no local.
Mondego diz que viu ao menos cinco homens armados, mas que nenhum deles sacou armas de fogo e limitaram-se a exibi-las junto ao corpo. “É uma semana difícil. O nosso medo é sermos mais um Marcelo Arruda”, disse Mondego.
A menção de Mondego está relacionada ao tesoureiro do PT em Foz do Iguaçu (PR), Marcelo Arruda, morto por Jorge Guaranho, um bolsonarista, durante sua festa com temática petista. Ontem, a Polícia Civil do Paraná finalizou o inquérito e afirmou que o crime não teve motivação política.
Quem é Rodrigo Amorim
O deputado estadual ganhou notoriedade na campanha à Alerj em 2018. Na ocasião, junto com o então candidato a deputado federal Daniel Silveira, ele quebrou uma placa de homenagem à vereadora Marielle Franco (PSOL), assassinada a tiros em março daquele ano.
Quatro anos depois, em março deste ano, Amorim e Silveira posaram para uma foto com a placa quebrada. Anielle Franco, irmã da vereadora e diretora do Instituto Marielle Franco, afirmou na época: “A gente tem diversas pautas importantes acontecendo neste momento no país, no estado, na cidade, e o deputado [Rodrigo Amorim], ao invés de estar trabalhando, focado no que ele foi eleito para fazer, perde tempo lamentavelmente disseminando ódio”.
Mais recentemente, no início deste mês, Amorim foi denunciado pelo MPF (Ministério Público Federal) por violência política de gênero. A ação é motivada por ataques transfóbicos feitos por ele em plenário contra a vereadora Benny Briolly (PSOL-RJ), de Niterói (RJ).
Em discurso no plenário da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) em 17 de junho, Amorim chamou a vereadora de “aberração” e “boizebu” pela sua identidade de gênero.
Em outro trecho do discurso, o parlamentar diz: “sou do tempo em que existiam homens, mulheres, bichas e sapatões, nada mais”. Por conta dessas declarações, Benny registrou um boletim de ocorrência contra Amorim na Decradi (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância).
Com informações do site UOL