A comunidade internacional está em alerta diante de um novo e preocupante surto do vírus da mpox, também conhecido como monkeypox. Uma variante mais letal e transmissível do vírus emergiu na região central da África, mudando o perfil das vítimas em comparação ao surto global de 2022, que havia sido controlado.
Nesta quarta-feira (14/8), a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou novamente a mpox como uma emergência sanitária internacional, apelando para que os países intensifiquem os esforços de contenção antes que o surto se alastre. O primeiro caso da nova cepa, identificada como Clado 1b, foi confirmado fora da África na Suécia, aumentando as preocupações globais.
Os dados mais recentes indicam que, ao contrário do surto anterior, em que homens que fazem sexo com homens eram o grupo mais afetado, o atual surto está impactando de maneira desproporcional as crianças, especialmente aquelas menores de cinco anos.
Impacto da Mpox em Crianças
Na República Democrática do Congo (RDC), onde a nova cepa foi identificada, o vírus tem causado um número alarmante de casos e mortes. De acordo com o Centro de Controle de Doenças da África (CDC África), mais de 15.600 casos de mpox foram registrados em 2024, resultando em 537 mortes, sendo 85% das vítimas crianças menores de 15 anos. Destas, 62% têm menos de cinco anos de idade.
Dimie Ogoina, cientista nigeriano que diagnosticou o primeiro caso no surto de 2022 e atual líder da operação da OMS contra a mpox, destacou a gravidade da situação. “As crianças parecem ter uma maior tendência a desenvolver formas graves da doença, especialmente aquelas com menos de cinco anos”, explicou Ogoina em uma coletiva de imprensa. Ele ressaltou que a nova variante está afetando uma gama mais ampla de pessoas, incluindo mulheres e crianças, muitas vezes em transmissões dentro do mesmo domicílio.
Especialistas acreditam que a alta taxa de mortalidade entre crianças pode ser atribuída à ausência da vacina contra a varíola, não aplicada na região desde 1980, e à desnutrição que atinge cerca de 40% das crianças na área, comprometendo suas defesas imunológicas contra o vírus.
Propagação do Vírus
Além da RDC, casos de mpox têm sido relatados em países vizinhos como Burundi, Uganda, Quênia e Ruanda, e agora na Suécia, onde uma pessoa infectada recentemente esteve na África Central. O número de casos na África já supera os registros de 2022 e 2023 combinados.
O vírus da mpox pode ser transmitido através do contato físico com pessoas ou animais infectados, materiais contaminados, e até por gotículas respiratórias. Entretanto, o contato íntimo, pele com pele, ainda é considerado a forma mais comum de transmissão. O isolamento dos indivíduos sintomáticos, essencial para conter o surto, tem sido difícil de implementar em regiões onde as condições de vida são precárias e a superlotação nos hospitais é uma realidade.
O que é a Mpox?
A mpox é uma doença viral causada pelo vírus monkeypox, que possui dois clados distintos: 1 e 2. O Clado 1b, uma nova subvariante descrita pela primeira vez em 2023, é responsável pelo surto atual. Os sintomas típicos incluem erupções cutâneas, febre, dores musculares e exaustão, com duração de 2 a 4 semanas.
Medidas de Prevenção no Brasil
No Brasil, o Ministério da Saúde está em alerta para evitar a propagação do Clado 1b, que ainda não foi detectado no país. Em 2024, foram notificados 709 casos da variante 2 e 16 óbitos desde 2022, uma taxa de mortalidade inferior a 1%.
Em resposta ao surto e à vulnerabilidade das crianças, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, afirmou: “A descoberta de casos em crianças foi um dos fatores que motivou a declaração de emergência internacional. Estamos em nível 1 de alerta, mas já elaboramos orientações para monitorar sintomas e intensificar a vigilância”.
O Brasil está negociando com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) a compra de 25 mil doses de vacina para imunização emergencial, especialmente voltada para imunossuprimidos e profissionais de saúde. Atualmente, o país dispõe de 49 mil doses da vacina, que é administrada pós-exposição em indivíduos que tiveram contato com casos suspeitos.