Ao subir a Selic de 10,75% para 11,75% ao ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) afastou nesta quarta-feira, 16, a possibilidade de que o fim do ciclo de alta dos juros está próximo. No âmbito externo, o conflito no Leste Europeu trouxe uma dose extra de volatilidade ao mercado, enquanto no cenário doméstico, a política fiscal continua sendo fonte de preocupações. Para analistas do mercado financeiro, o tom hawkish — jargão para ações mais tempestivas —, reforça a expectativa de um aperto na política monetária mais intenso do que o previsto, mesmo que o movimento eleve o sacrifício que o aumento da taxa básica de juros impõe às atividades econômicas. “A inflação continua surpreendendo negativamente e a recente alta nos preços das commodities trouxe ainda mais incertezas para o quadro futuro da inflação, com as projeções sendo revisadas para cima constantemente”, afirma Fernanda Consorte, economista-chefe do Banco Ourinvest.
Em nota, o Copom afirmou que deve fazer novo ajuste de 1 ponto percentual no próximo encontro, elevando a Selic a 12,75% ao ano. Segundo o BC, o atual ritmo é compatível para trazer a inflação para as metas de 2022 e 2023, mas que diante da desancoragem das expectativas para prazos mais longos, “é apropriado que o ciclo de aperto monetário continue avançando significativamente em território ainda mais contracionista”. Para a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, a comunicação corrobora a opinião de aumento do ciclo. Atualmente, o mercado financeiro projeta que a Selic vá encerrar 2022 a 12,75% ao ano. “O Comitê foi bem duro e enfatizou que vai perseverar na estratégia [de aumento de juros] até que se consolide não só o processo de desinflação, como também a ancoragem das expectativas em torno das suas metas.”
Pela pressão do cenário doméstico, o colegiado voltou a citar a política fiscal como fonte de risco para a desancoragem das expectativas, “mas considera que esse risco está sendo parcialmente incorporado nas expectativas de inflação e preços de ativos utilizados em seus modelos”. O BC também chamou a atenção para a adoção de políticas fiscais que elevem o poder de consumo e piorem a trajetória das contas públicas como fatores que podem impactar o controle inflacionário. Recentemente, a equipe do ministro Paulo Guedes (Economia) defendeu o aumento do Auxílio Brasil, o benefício de parcelas mínimas de R$ 400 pago para 17,5 milhões de brasileiros, como forma de mitigar os efeitos da alta dos combustíveis entre os mais vulneráveis. “O comunicado trouxe esse tom de alerta para a inflação via preços internacionais, mas também pontuou que uma piora adicional no quadro fiscal, via aumento de gastos e queda da arrecadação, foi também fundamentais para a decisão de hoje”, afirma Consorte.
Fonte: JP Notícias