Na padaria de um supermercado de Brasília, o aumento do preço do trigo no mercado internacional já chegou à prateleira. O quilo do pão agora custa R$ 17. Na semana passada era R$ 15. Consumidores comentam que há lugares onde o pãozinho já está sendo vendido a R$ 21. A cabeleireira Vanessa Carvalho quase pagou R$ 40 no quilo. Foi um erro na hora de passar o produto no caixa, mas ela acha que o preço ainda pode chegar lá. “Isso pode estar acontecendo, devido a toda essa guerra, Para nós pesou muito, nos nossos bolsos”, diz.
O padeiro Ednaldo Queiroz conta que só possui estoque de farinha de trigo suficiente para mais uma semana; “Só temos 80 sacos de farinha. Só dá para mais uns seis dias”, diz. A administradora Naisa Bernardes fala que os impactos da guerra na Ucrânia já chegaram às mesas brasileiras. “Esses reflexos já estão atingindo nossas mesas. A maneira de não parar de consumir um produto é diminuir a quantidade, mas o reflexo já está nas nossas casas e nos nossos bolsos. E a rota está sendo recalculada.
O militar Pedro Alcâncara tem feito trocas para continuar consumindo o pão. Segundo ele, de um dia para o outro o preço muda. “Estou fazendo as contas para ver a diferença. E sempre há uma diferença. Isso é que não está dando certo, para se viver. Quando não muda em um item, muda no outro, mas tá mudando sempre”, critica. Rússia e Ucrânia são responsáveis por 30% das exportações mundiais de trigo. A demanda de consumo no Brasil é de 12 milhões de toneladas por ano e o país produz só a metade. A maior parte do trigo importando que vem para o Brasil é da Argentina.
Na produção mundial, o trigo só perde para o milho. É uma cultura essencial para a segurança alimentar e carboidrato básico para mais de um terço da população. A guerra trouxe dificuldades logísticas: fechou portos, interrompeu o transporte e, obviamente, diminuiu as produções russa e ucraniana de commodities. Queda na produção do trigo e alta nos preços. Paulo Menegueli, presidente da Associação Brasileira da Industria de Panificação e Confeitaria (ABIP), destacou que os preços vão subir ainda mais, entretanto sem risco de desabastecimento.
“Nós não acreditamos em desabastecimento, porque a gente compra trigo mais da Argentina, Uruguai, Paraguai e, alguma coisa, dos Estados Unidos. Em 2021, nós só compramos dois navios de trigo da Rússia. A gente esperava que essa guerra fosse mais rápido, já está demorando muito, então isso vai impactar na distribuição e vamos ter o impacto do preço.Onde teme stoque, os preços ainda não foram atualizados, mas a gente vê que não tem como não haver o repasse para o consumidor, porque os aumentos estão muito altos”, disse Menegueli. A previsão é de uma alta de 20% nos derivados de trigo, o que pode elevar ainda mais a inflação anual, afinal a cadeira de produtos consome cerca de 2% do orçamento familiar brasileiro.
Fonte: JP Notícias