KIEV — Apenas um dia após o presidente Vladimir Putin ordenar uma invasão militar em larga escala da Ucrânia, tropas russas alcançaram Kiev, a capital do país vizinho. Segundo o Ministério da Defesa ucraniano, militares russos estão posicionados no distrito residencial de Obolon, cerca de 9 km ao norte do Parlamento ucraniano, no centro da cidade.
Ao mesmo tempo, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse que está disposto a adotar um status de neutralidade e desistir do pedido de entrada na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), a aliança militar comandada pelos EUA — a grande demanda russa para parar a invasão. Moscou, porém, recebeu a declaração com frieza e disse que o ucraniano mente.
As forças russas convergiram sobre Kiev após avançarem rapidamente de três eixos de direções diferentes, no Norte, Sul e Leste da Ucrânia. As duas primeiras colunas dirigiram-se à capital no início da ofensiva, segundo autoridades de inteligência ucranianas.
Segundo a AFP, o ataque a Kiev começou com helicópteros, pouco antes das 4h locais (23h de quinta em Brasília). Sirenes de ataque aéreo soaram na cidade de 3 milhões de habitantes, onde muitos se abrigavam em estações de metrô subterrâneas.
Um alto funcionário ucraniano disse que as forças do país defendem a capital em quatro frentes e estão em menor número. Autoridades locais disseram que um avião russo foi derrubado e colidiu com um prédio em Kiev durante a noite, incendiando-o e ferindo oito pessoas.
Em um prédio de 10 andares de um conjunto habitacional perto do principal aeroporto de Kiev, uma bomba explodiu pouco antes do amanhecer e deixou uma cratera de dois metros. Um policial disse que várias pessoas ficaram feridas, mas não houve mortes.
— Como podemos sobreviver a isso em nosso tempo? O que devemos pensar. Putin deveria ser queimado no inferno junto com toda a sua família — disse Oxana Gulenko, limpando cacos de vidro de seu quarto.
Um vizinho, o veterano do Exército soviético Anatoliy Marchenko, de 57 anos, não conseguiu encontrar seu gato que havia fugido durante o bombardeio.
— Conheço pessoas lá, são meus amigos — disse ele sobre a Rússia. — O que eles precisam de mim? Uma guerra chegou até a minha casa e é isso.
Ataques continuam também em várias outras cidades ucranianas. Grandes explosões foram ouvidas em Kharkiv, a segunda maior cidade do país e mais próxima, de grande porte, da fronteira com a Rússia. A prefeitura pediu para a população procurar abrigo.
Em Lviv, no Oeste, sirenes de ataque aéreo soaram. As autoridades relataram fortes combates na cidade oriental de Sumy.
Convocação geral
O Exército da Ucrânia fez uma convocação para todos os civis se alistarem:
“Precisamos de todos os recrutas, sem restrições de idade”, disse uma primeira mensagem publicada em rede social. A convocação, presumivelmente, vale também para menores de idade, e alcança homens e mulheres. Desde dezembro, todas as mulheres ucranianas “aptas ao serviço militar” entre 18 e 60 anos fazem parte da reserva em tempos de guerra.
Pouco depois, houve uma segunda convocação: “Hoje, a Ucrânia precisa de tudo. Todos os procedimentos de adesão são simplificados. Traga apenas seu passaporte e número de identidade”.
O governo encorajou moradores a resistirem, enquanto também aconselham outros a procurarem abrigo.
“Pedimos aos cidadãos que nos informem sobre os movimentos de tropas, façam coquetéis molotov e neutralizem o inimigo”, afirma um texto.
Segundo o presidente Volodymyr Zelensky, 137 pessoas morreram e 316 ficaram feridas no primeiro dia de operações, incluindo dezenas de civis.
“Moradores pacíficos: tomem cuidado. Não saiam de casa!”, dizia o comunicado.
Bombardeios em 33 áreas civis
O Ministério do Interior da Ucrânia informou ter registrado bombardeios russos em 33 alvos civis no primeiro dia de ofensiva.
— Os russos dizem que não estão atacando civis, mas 33 locais civis foram atingidos nas últimas 24 horas — disse Vadym Denysenko à agência de notícias Reuters.
Durante discurso na noite de quinta-feira, o presidente Zelensky se comprometeu a permanecer em Kiev, enquanto suas tropas combatem os invasores russos. Ele assinou um decreto de mobilização geral. Conforme o texto, estão convocados todos os recrutas e reservistas aptos para o serviço, que devem se apresentar a alguma das instituições militares do país.
Fonte: O Globo